INDICE CRISTÃOS BEREANOS

quinta-feira, 17 de julho de 2025

O DÍZIMO NO ANTIGO E NOVO TESTAMENTO: UMA ANÁLISE BÍBLICA E TEOLÓGICA

✍ Por: José Roberto Alves da Silva

I. INTRODUÇÃO TEOLÓGICA

O dízimo, que significa “a décima parte” (hebraico: ma‘ăśēr; grego: dekátē), é um princípio que perpassa a história da revelação bíblica. Desde os patriarcas, passando pela Lei Mosaica, até o Novo Testamento, o dízimo assume diferentes funções: expressão de gratidão, manutenção do culto e símbolo de fidelidade a Deus.
Contudo, o Novo Testamento traz uma nova perspectiva, não anulando o princípio, mas o reinterpretando à luz da graça.

Tese:
👉 “O dízimo é um princípio divino instituído antes da Lei, regulamentado na Lei de Moisés e reinterpretado no Novo Testamento como expressão de generosidade e fidelidade voluntária, refletindo a graça e não a imposição legalista.”

II. O DÍZIMO NO ANTIGO TESTAMENTO

1. Antes da Lei (Princípio Patriarcal e Universal)

✅ Abraão – Dízimo como gratidão e reconhecimento da soberania de Deus

Gênesis 14:18-20 – Abraão deu o dízimo a Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo, antes mesmo da Lei.
👉 “E deu-lhe o dízimo de tudo.”
🔎 Análise: Abraão não deu por obrigação, mas por reconhecimento da vitória que Deus lhe concedera.


✅ Jacó – Voto voluntário de fidelidade

Gênesis 28:20-22 – Jacó prometeu dar o dízimo de tudo que Deus lhe concedesse.
👉 “E de tudo quanto me deres certamente te darei o dízimo.”
🔎 Análise: Um ato de fé e compromisso pessoal, e não um mandamento legal.

2. Na Lei Mosaica (Mandamento Teocrático e Cultual)

A Lei transformou o princípio em regulamento para sustento do culto e do sacerdócio levítico.

✅ Funções do Dízimo na Lei:

1. Sustento dos Levitas e sacerdotes – Números 18:21-24
👉 “Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam...”


2. Celebração e adoração a Deus (Dízimo das Festas) – Deuteronômio 14:22-27
👉 O dízimo era consumido em festividades religiosas em adoração a Deus.


3. Assistência aos pobres, órfãos e viúvas (Dízimo Trienal) – Deuteronômio 14:28-29



✅ Exortação Profética à Fidelidade:

Malaquias 3:8-10
👉 “Roubará o homem a Deus?... Trazei todos os dízimos à casa do tesouro...”
🔎 Análise: O profeta denuncia a infidelidade como roubo a Deus, destacando a bênção decorrente da fidelidade.

3. Características do Dízimo no Antigo Testamento

Obrigatório dentro da teocracia israelita.

Sustentava a adoração, o templo e os necessitados.

Era, acima de tudo, um ato de obediência e reverência a Deus.

III. O DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO

1. Jesus e o Dízimo

✅ Mateus 23:23 / Lucas 11:42
👉 “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois dais o dízimo da hortelã... e negligenciais o mais importante da lei...”
🔎 Análise: Jesus não condena o dízimo, mas critica a hipocrisia legalista, ensinando que justiça, misericórdia e fé são mais importantes.

✅ Hebreus 7:1-10
👉 O autor mostra que Abraão deu o dízimo a Melquisedeque, apontando para Cristo como Sacerdote eterno.
🔎 Análise: O dízimo é apresentado como um princípio que antecede a Lei e encontra cumprimento em Cristo.

2. A Igreja Primitiva e a Generosidade Voluntária

Embora o Novo Testamento não imponha o dízimo como lei, os crentes eram extremamente generosos.

✅ Atos 2:44-45; 4:34-35
👉 “Vendiam suas propriedades e bens e repartiam com todos, segundo a necessidade de cada um.”

✅ 2 Coríntios 9:6-7
👉 “Cada um contribua segundo propôs no coração; não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.”

✅ 1 Coríntios 16:1-2
👉 Paulo orienta uma contribuição proporcional e regular, o que preserva o princípio do dízimo, mas sem a rigidez legal.

3. Princípios Neotestamentários de Contribuição

Voluntariedade e alegria – 2Co 9:7

Proporcionalidade e fidelidade – 1Co 16:2

Finalidade: sustento do ministério e dos necessitados – 1Tm 5:17-18; Gl 6:6

IV. TESE TEOLÓGICA

1. O dízimo não foi abolido, mas ressignificado na Nova Aliança: não como lei cerimonial, mas como princípio de gratidão e mordomia cristã.


2. A graça exige mais do que a Lei – quem foi salvo pela graça não deve dar menos do que um judeu dava sob a lei.


3. A Igreja não deve impor o dízimo como “imposto espiritual”, mas ensiná-lo como ato de adoração e fidelidade a Deus.

V. APLICAÇÕES PARA OS CRENTES HOJE

1. Reconheça que tudo pertence a Deus – Sl 24:1.


2. Seja fiel e regular em suas contribuições – 1Co 16:2.


3. Contribua com alegria, não por constrangimento – 2Co 9:7.


4. Lembre-se que dar é adoração – Fp 4:18 (“sacrifício agradável e aprazível a Deus”).

VI. CONCLUSÃO

O dízimo é um princípio eterno de mordomia, não um mero sistema de arrecadação. No Antigo Testamento, era lei nacional e religiosa; no Novo Testamento, torna-se expressão espontânea de amor e gratidão a Deus.
Quem vive pela graça deve ser ainda mais generoso do que aqueles que viviam sob a lei.