INDICE CRISTÃOS BEREANOS

sábado, 27 de setembro de 2025

Assembleia de Jerusalém - aula 13

 Comentário Teológico Expandido – Assembleia de Jerusalém (Atos 15)


1. Introdução histórica e teológica


A chamada Assembleia de Jerusalém foi o primeiro concílio da Igreja Cristã, ocorrido por volta do ano 49 d.C., e registrado em Atos 15. Este evento é fundamental para entendermos a identidade da Igreja e sua missão no mundo. A questão central não era apenas se os gentios podiam ser salvos, mas como eles seriam salvos: pela graça de Cristo ou pela observância da Lei de Moisés.


Esse conflito representava uma encruzilhada histórica. Se prevalecesse a visão dos judaizantes (cristãos de origem farisaica que defendiam a circuncisão e a lei como obrigatórias), o cristianismo seria reduzido a uma seita dentro do judaísmo. Contudo, ao reafirmar a graça de Cristo como suficiente para a salvação, a Igreja consolidou sua vocação universal.


2. A questão doutrinária (At 15.1–5)


O problema nasceu em Antioquia, centro missionário do cristianismo gentílico, após a primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé (At 14.27).


Os judaizantes afirmavam que a fé em Cristo era necessária, mas não suficiente. Para eles, a salvação exigia circuncisão e submissão à lei mosaica (At 15.1,5).


Essa posição equivalia a reconstruir o muro de separação derrubado por Cristo (Ef 2.14–16) e a negar a suficiência da cruz (Gl 2.16).



O perigo do legalismo surge aqui com força: transformar a graça em complemento da lei, quando na verdade Cristo é o cumprimento da lei (Rm 10.4).


3. O debate doutrinário (At 15.6–21)


Reunidos em Jerusalém, os apóstolos e anciãos debateram com profundidade a questão. Três figuras centrais se destacam:


a) Pedro


Ele relembrou a experiência de Cornélio (At 10), mostrando que Deus concedeu o Espírito Santo aos gentios sem exigir a circuncisão (At 15.8–9).

👉 Teologia prática: a experiência espiritual dos gentios confirmava a suficiência da fé em Cristo.


b) Paulo e Barnabé


Relataram os sinais e milagres entre os gentios, mostrando que Deus aprovava a inclusão deles sem as obras da lei (At 15.12).

👉 Teologia missional: o Evangelho é poder de Deus para judeus e gentios (Rm 1.16).


c) Tiago


Recorreu às Escrituras (Am 9.11–12; Is 49.6) para demonstrar que os profetas já anunciavam a inclusão dos gentios no povo de Deus (At 15.13–18).

👉 Teologia bíblica: a Palavra confirma que a Igreja é o cumprimento das promessas messiânicas.


O equilíbrio entre experiência do Espírito e fundamentação bíblica foi decisivo. Assim, a Igreja discerniu a voz de Deus unindo prática, testemunho e Escritura.


4. A decisão final (At 15.22–29)


A resolução da Assembleia foi registrada e enviada em forma de carta às igrejas.


A salvação é pela graça, mediante a fé em Cristo, sem as obras da lei (Ef 2.8–9).


Não se exigiu a circuncisão nem a observância da lei mosaica.


Foram recomendadas quatro práticas (At 15.29) para preservar a comunhão entre judeus e gentios:


1. Abster-se das comidas sacrificadas a ídolos;

2. Abster-se da imoralidade sexual;

3. Não comer carne de animais estrangulados;

4. Não consumir sangue.


Essas restrições não eram requisitos de salvação, mas orientações prudenciais para evitar escândalos e preservar a unidade da Igreja.


5. O papel do Espírito Santo (At 15.28)


A decisão foi reconhecida como fruto da direção do Espírito Santo: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós...”


Isso mostra que o Espírito não é uma doutrina abstrata, mas pessoa ativa na condução da Igreja.


A presença de profetas (At 15.32) indica que a orientação vinha por meio dos dons espirituais, confirmados pela Escritura e pela unidade da liderança.


O modelo é claro: a Igreja deve ser submissa à Palavra e sensível ao Espírito.


6. Implicações teológicas e práticas


A Assembleia de Jerusalém estabeleceu princípios que permanecem atuais:


1. Contra o legalismo: não podemos adicionar exigências humanas à salvação.


2. Centralidade da graça: a salvação é obra exclusiva de Cristo, não resultado de méritos humanos.



3. Unidade na diversidade: a Igreja acolhe pessoas de todas as culturas, respeitando diferenças sem abrir mão da verdade.



4. Discernimento espiritual: experiências devem ser confirmadas pela Escritura.



5. Conciliação e diálogo: diante de conflitos doutrinários, a Igreja deve buscar soluções em colegiado, guiada pelo Espírito.



7. Conclusão


A Assembleia de Jerusalém foi um marco decisivo na história da Igreja. Diante de uma crise que poderia fragmentar a fé cristã, a liderança buscou a orientação do Espírito, fundamentou-se nas Escrituras e preservou a unidade do corpo de Cristo.


O resultado foi uma decisão bíblica, espiritual e pastoral, reafirmando a pureza do Evangelho e garantindo que a Igreja se mantivesse aberta a todas as nações.